Após 33 anos sem gravar um álbum completo de músicas inéditas, e 33 anos de sua separação, a banda britânica de Heavy Metal Black Sabbath anunciou no final do ano passado - precisamente em 11-11-2011, a reunião de sua formação original - composta pelo Vocalista Ozzy Osbourne, o Guitarrista Tony Iommi, o Baixista Geezer Butler, e o Baterista Bill Ward, para a gravação de um derradeiro àlbum de estúdio, além de uma turnê mundial desta que é considerada a Maior Banda de Heavy Metal da História do Rock...
Esta mesma line-up já havia se reunido para uma turnê mundial no ano de 1997 - que culminou na gravação do álbum ao vivo intitulado Reunion, datando do mesmo ano, além de algumas eventuais apresentações em festivais, mas muito distante da dimensão do anunciado no final do ano passado pelos '04 Cavaleiros do Apocalipse Metal' - Ozzy, Iommi, Butler e Ward.
![]() |
Geezer Butler, Ozzy Osbourne, Bill Ward e Tony Iommi na década de 70 |

Mas os aspectos egoísticos imanentes ao insidioso Mainstream do Mundo Musical, tão bem representados no velho Absolutismo Artístico Egoístico de Ozzy Osbourne e Tony Iommi conhecido de todos aparenta estar se avultando de maneira aterradora, em uma ascendência determinante sobre os rumos deste retorno do Sabbath, tão aclamado pela crítica especializada e fãs por todo mundo - ameaçando atribuir um fatídico desfecho ao retorno dos veteranos da banda britânica. Afinal, uma reunião sem um dos integrantes da formação original descredita o caráter da mesma, na minha opinião...
Bill Ward alega não ter recebido um contrato que seja, em suas palavras: - “assinável, decente, digno, aceitável, respeitoso com relação a mim e minha família; que faça jus a minha relevância e devoção musical e artísticas ao Black Sabbath (...) que atribua o merecido valor à minha contribuição para a banda em sua trajetória, na honra ao mérito de um membro–fundador (...)", segundo o próprio, baterista da banda desde seu advento, em 1968, até 1983, período intercalado por idas e vindas, sem deixar de pontuar que continua aberto ao diálogo e possível resolução das diferenças – mesma posição sustentada pelos seus antigos companheiros de Banda... Querer é poder...
Muitos analistas estão criticando severamente o ‘desejo de igualdade de direitos’ por parte de Bill Ward, vendo em sua atitude inclusive, um romantismo retrógrado, um idealismo infantil, ultrapassado. Afirmam não existir mais espaço para tal postura em se tratando da Mega – Indústria Cultural vigente nos dias atuais.
No meu modo de ver, a iconografia imanente ao mito Ozzy Osbourne transgrediu todos os parâmetros segmentadores do estilo, não podendo mais ser rotulado como Heavy Metal ou quaisquer outras categorizações do tipo... Vislumbro Ozzy Osbourne como uma das marcas mais abrangentes, sistêmicas e holísticas da Indústria Cultural, tendo a mesma se apropriado de seu nome em praticamente toda as esferas da Cultura Pop. Afirmo ainda que Iommi e Butler têm ciência acerca desta superioridade de Ozzy Osbourne, aceitando que o mesmo esteja ‘ditando as cartas’ junto à sua esposa e empresária Sharon Osbourne...
Quanto ao aspecto Musical – Técnico, atendo – se ao que denomino Genealogia do Heavy Metal, vejo no Baterista Bill Ward um dos maiores expoentes rítmicos do Rock Pesado de todos os tempos... Detentor de uma pegada unívoca, inconfundível, assentada em um amálgama de influências, abrangendo Rhythm'n Blues, Jazz, Country, Soul, Rockabilly; sedimentando a partir da fusão destes gêneros, a simbiogênese sonora que mais tarde viria a ser batizada como Heavy Metal, apresentada ao Mundo pela Banda Black Sabbath... Para mim, a banda foi a matriz desfragmentária do gênero, no que tange às manifestações seminais do Rock Metal reportando à Revolução da Contracultura dos anos 60/70... Finalizando, Bill teve um papel emblemático, vital na identidade sonora incipiente do Heavy Metal, que ainda estava sendo plasmada no final dos anos 60...
Artisticamente, entretanto, Bill Ward sempre foi preterido pelos demais integrantes, assumindo uma postura secundária em relação Ozzy, Iommi e Butler. Uma carreira estigmatizada pela entropia estarrecedora engendrada no uso abusivo do álcool e das drogas, que impediram um reconhecimento do real valor artístico do músico... Principalmente, após a sua saída definitiva do Black Sabbath, ao término das gravações do álbum Born Again, no ano de 1983.
Penso que o anúncio oficial da reunião da banda, retroagindo sobre o 11-11-2011, não poderia ter sido feito antes da devida deliberação das cláusulas contratuais entre os membros fundadores. Teria Bill Ward então, se arrependido do acordado com Ozzy, Iommi e Butler na ocasião do anúncio oficial em novembro de 2011? Estaria exigindo neste momento, a divisão em partes iguais dos direitos autorais sobre as novas composições, e das subseqüentes gerações de receita , enfim, dos lucros referentes à nova turnê?
Em contrapartida, a reação adversa dos fãs da franquia Black Sabbath por todo o mundo, rejeitando a idéia do afastamento e substituição de Ward por outro músico, pode dimensionar a gravidade da situação, na constatação de que a arte jamais deve se restringir somente a interesses meramente financeiros - que podem apresentar uma ingerência insidiosa e destrutiva ao extremo sobre reuniões como a anunciada pelo Black Sabbath em novembro do ano passado...
Agregando – se ao revés financeiro entre Ward e o restante da banda , a questão da já conhecida atual limitação física e dos problemas de saúde do baterista, piorando ainda mais uma situação que já parecia desvelar um incontornável desfecho em detrimento da permanência do mesmo na banda... Lamentável para os fãs, antes extasiados com retorno da formação original do Black Sabbath - incluindo este que vos escreve...
Apesar do diagnóstico de Câncer Linfático de Tony Iommi, e da situação litigiosa com relação a Bill, os membros remanescentes - Ozzy, Iommi e Butler prosseguem os ensaios e gravações no Reino Unido, já tendo anunciado, inclusive, as datas da nova turnê, que iniciará no mês de junho, com um Show na Rússia.
Inviável para mim ignorar as elucubrações imanentes a estas inevitáveis agruras artísticas, imprimindo nesta conjuntura a seguinte indagação: existe ainda espaço, fundamentação, motivo ou razão para artistas da estirpe de Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward – centro tonal desta nova altercação, criarem atmosferas antinômicas, embates entre seus egos já suficientemente alimentados pela fantasmagoria da fama fomentada pelo Show Business? Ou estariam os mesmos entregues de maneira irreversível à disfunção narcotizante desumanizadora do Mainstream? Lamentável...
E quanto a consciência dos mesmos acerca do enclausuramento na finitude espácio – temporal em suas vidas (como exemplo, o câncer linfático enfrentado neste momento pelo Mestre dos Riffs Tony Iommi, em meio as gravações do novo álbum), comum a todo e qualquer um de nós? São homens de mais de 60 anos de idade, carreiras consagradas, consolidadas; realizados artisticamente e financeiramente – portanto, o que pode avalizar ainda a ambição, arrivismo, ganância em detrimento do caráter artístico desta reunião? Deveriam atentar para a atribuição axial que a Ubíqua Rede Neural Universal lhes outorgou, na onipotência do legado Black Sabbath... Atemporal em sua ascendência artística sobre miríades de gerações, diante deste amplitude de percepção que deveria, ao menos no derradeiro trabalho da banda, transcender ao âmbito financeiro, comercial, a Royalties, Direitos Autorais, dentre outras deliberações, diante das funções primordiais referentes ao labor artístico...
JOÃO OLMEDO